Hoje o meu momento é de saudade e de orgulho.Para as pessoas que gostam de história,os fatos são interessantes.Meu avô foi uma figura muito especial.Imaginem uma pessoa que fez de tudo , aproveitou cada segundo da vida que lhe foi dada.Então , esse é o meu avô Adelmo Montanari.Uma pessoa ímpar.Nasceu praticamente no início do século passado e o vivenciou inteirinho , até a virada do século atual , vindo a falecer em 2001. Ele foi pedreiro , mestre de obras , construtor/arquiteto , escreveu livros sobre espiritismo , participou da revolução de 30 , era carioca , mas se tornou paulista de corpo e alma , boêmio , viajou por vários lugares e sempre tinha uma história única para contar.Cada lugarzinho do bairro da Moóca tem um pedacinho dele , foram várias casas construídas , vilas e ruas que ele abriu , pois na época eram vendidos os lotes e o proprietário dividia e podia abrir ruas(mas esta é uma outra história)....E uma(na verdade duas) das suas histórias , ele deixou escrita em uma cartinha prá mim , que irei trancrever para vocês na minha postagem de hoje.
"Minha querida netinha Paulinha",
"Que alegria eu senti ao ler o jornal da semana e ver a reportagem sobre o Teatro Municipal e especialmente porque falavam de 1931 , quando eu cantei lá como baritono sob a regência do Maestro Villa Lobos.Eu era soldado do exército do 4ºB.C. , e o maestro lá apareceu a procura de cantores para formar um coro e apresentar no Teatro Municipal.Entre milhares de militares eu fui escolhido como baritono , devido a minha voz.O grupo era de 50 a 70 cantores , constituidos só de tenores baritonos e baixos , o restante eram normalistas , mas somente os militares cantavam no palco.Foi um dia muito especial para mim..
E por falar de quando eu era soldado do exército , lembrei-me de te contar algo que também desconheças.
Terminada a revolução de 1930 , eu me apresentei como voluntário , com apenas 17 anos , e note que no meu batalhão deveria haver uns dois mil soldados , devido a anormalidade da revolução , que não havia sido totalmente terminada , pois a força pública de S.Paulo não queria se entregar , por isso o batalhão estava sempre de prontidão.Devido as circuntâncias o comando precisou formar um pelotão de voluntários (40 soldados) , para estar sempre em estado de alerta e defender o quartel general (General Izidoro Lopes e Goes Monteiro) e eu como sempre gostei de viver em perigo e não tinha medo de nada , me apresentei no 2º pelotão da 1ª CIA .Dormiamos equipados para o que fosse preciso,porque constantemente eramos acordados para entrincheirar nos campos de Santana ,esperando ataques da meganha (PM,soldados,pau mandados) , e as vezes tinhamos que correr para defender o Q.G. da rua Conselheiro Crispiniano (hoje é um jardim público com placas e dizeres do Q.G.).Entre os dois mil soldados do 4º batalhão,nos do 2º pelotão fomos elogiados e merecemos as honras do comando e do Q.G.,consta na minha carteira militar o elogio pelo sadio estusiasmo militar , o mesmo que bravura em tempo de guerra.
Netinha querida como bem podes ver , o vovô já viveu lindos momentos na vida.Hoje vivo só de recordações.Se rebuscares a minha vida verás que já existiu muita coisa bela e nobre . Deus te abençõe.Vovô."
Em outras postagens contarei mais histórias do meu avô , pois ele sempre escrevia ou contava algumas coisas do tempo de criança , descrevia São Paulo do inicio do século.Mas por enquanto é isso.Compartilhei um dos momentos mais importantes da vida dele.
Até mais....
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